Ester Rocha de Souza – 7 série O.L.F

30 de setembro de 2010

Notícias

         Eu estava brincando daquelas brincadeiras que hoje não existem mais. As atuais crianças jamais sonharam em obter o privilégio de brincar de escorregador de calha de coqueiro, de carrinhos de madeira etc. Eu mesmo colocava a lenha fincada no chão à certa distância, esticava o cipó e amarrava-o na ponta de cada estaca. Dizia que eram “as novas redes de eletrecidade que o governo colocou na nossa vizinhança, afim de ajudar-nos”. O raciocínio era lógico: não havia energia elétrica.

         Hoje há motoca, bicicletinhas, caçambinhas, coisa que no meu tempo (não que o tempo fosse meu, mas na época que eu era moleque) ninguém jamais sonhara. Quanto às extensões de rede? Não é de admirar que sou eletrecista.

         - Filho, filho – chamava minha mãe.

         Obediente, ia atendê-la e não demorava nada já estava na trilha que ligava nossa casa à roça. É que meu pai também é ser humano e como qualquer um ele também sentia fome quando o relógio batia meio-dia. Não era conveniente que ele viesse para casa toda hora de comer, trilhar a trilha... Então era eu quem levava a sua refeição.

         Cheguei, parei e sentei em um tronco de árvore derrubado, junto com papai. E como um fiel cristão, não importando o lugar, até mesmo na roça, pedia a proteção de Deus e agradecia as bênçãos recebidas. O exemplo dele vem acompanhando-me em toda a minha vida.

         Eu era moleque e como qualquer outra criança abrir os olhos no meio da oração é quase normal. Não que seja certo, é errado, mas a nossa cabeça... Abri os olhos e espiei. Eu não falei nada, é que uma serpente passou entre mim e quem mais me queria bem por baixo do tronco suspenso do chão.

         Sim, eu tinha parado, olhado e mantido a calma. Meu pai morria de medo de cobra. Eu já sabendo que se parado estivesse ela ia e eu ficava (não que ficava picado e sim são e salvo) nada falei antes de os cílios se separarem: os de bixo e os de cima, antes daquela “bolinha” que tem o poder de enxergar aparecesse debaixo da pele que rapidamente abria e fechava.

         Então, quando a “cordinha viva” já estava mais adiante e meu pai já almoçando, contei-lhe:

         - Pai, olha ali!

         - Onde? – Disse ele procurando o ser que eu indicava.

         - Ali! Ali!

         - Vi! Sai de perto, menino. Essa é perigosa.

         - Não, pai, olha aqui! Esse buraco debaixo do tronco é que foi a trilha dela.

         - O quê?

         - Isso mesmo que você ouviu!

         Aquele dia me marcou. Aos meus dez anos, no Paraná, se não fosse a calma e a proteção divina, não sei o que teria acontecido, pois o que aconteceu foi impressionante para os meus tempos de menino.

 

Ester Rocha de Souza (7ª. A)

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