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Homenagem à primeira enfermeira de Guabiruba Irmã Ludviga (Maria Nuremberg), falecida nesta semana
11 de setembro de 2015
Artigo do Diácono Eder Claudio Celva
Faleceu aos 08 de setembro de 2015, festa da Natividade de Nossa Senhora, a querida Irmã Ludviga, com 95 anos. Seu passamento ocorreu após 15 dias de internamento no Hospital São José de Tijucas, onde inclusive, havia sido diretora, por dois períodos.
Filha de Geraldo Lembeck e Helena Nuremberg, agricultores de descendência germânica do Sul do Estado. Seus avós paternos, Henrique e Gertrudes Nuremberg; maternos, João e Margarida Philippi Lembeck. Registrada com o nome de Maria Nuremberg, nasceu em 22 de junho de 1920, em Braço do Norte, hoje território de São Ludgero, SC.
Desde a tenra infância, queria ser religiosa, primeiramente das Irmãs Clarissas. Com 13 anos, a menina, com a permissão da mãe, foi ser interna do Colégio Santa Ana de São Ludgero, sob a direção das Irmãs da Divina Providência. Deveria aprender culinária, corte e costura, enfim, tudo o que as Irmãs pudessem lhe passar; se tornaria moça prendada e, quem sabe - nas intenções da mãe -, poderia arranjar bom casamento. No internato não se ficava sem responsabilidades de trabalho.
Durante os dois anos que lá passou, a responsabilidade de Maria consistiu em cuidar do refeitório da casa paroquial, onde moravam o pároco, Mons. Frederico Tombrock, e o coadjutor, Mons. Others. Desse período, ela não cansava de expressar o contentamento com que, adolescente, pôde servir em tão nobre missão na casa do respeitadíssimo Cura de seu povo. Convivência agradável, da qual guardava grata lembrança desses distintos sacerdotes. Todo o ambiente religioso, com as Irmãs e os padres, levou-a a decidir-se pelo ideal que sempre a acompanhou desde a infância: ser religiosa.
Orientada pelas Irmãs, com 15 anos, no dia 23 de dezembro de 1935, partiu para Florianópolis. No ano seguinte, as Irmãs Superioras decidiram que a aluna deveria ir a Blumenau, estagiar. No Hospital Santa Isabel iniciou seu trabalho na enfermagem, acompanhada e ensinada pela Irma Aloysianis, de grata memória. Foram quase três anos de trabalho, em que a jovem Maria hauriu o espírito de abnegação e serviço na área da saúde.
Descobriu melhor seu carisma, e, aos 18 anos, ingressou na Congregação das Irmãs da Divina Providência. Mesmo tendo ideais bem claros e definidos, não foi fácil se desligar da família, deixando a mãe viúva e cinco irmãs. Seu pai falecera quando ela tinha seis anos. Em 8 de dezembro de 1938, voltou a Florianópolis para ingressar formalmente na Congregação, realizando o seu postulantado, ocasião também da mudança de nome, o que era praxe naqueles anos. Passou a chamar-se Ir. Ludviga. Em 1939, fez seu noviciado. Em 24 de junho de 1941, professou os primeiros votos religiosos, e logo após foi trabalhar no Hospital de Azambuja (junho de 1941 a janeiro de 1944). Em 1946, no mesmo dia e mês, consagrou-se definitivamente pelos votos perpétuos.
Sua designação de trabalho foi sempre na área da enfermagem. Ainda antes da profissão perpétua, a obediência a levou a Blumenau, onde a Irmã Aloysianis Fielkes, antes suas mestra, a requisitou para a área de enfermagem do Hospital Santa Isabel. Irmã Ludviga foi cada vez mais se destacando como Diretora e Administradora de importantes instituições de saúde. Ao longo dos anos, foi-se aperfeiçoando na área, adquirindo bons conhecimentos de medicina técnica. Atuou também, por muitos anos, em centros cirúrgicos.
Residindo no Hospital de Azambuja, Brusque, recebeu a incumbência de dar início a um ambulatório em Guabiruba. Era julho de 1962. Isto se deu por semanas, e, até receber transferência para a comunidade de Irmãs, recém- iniciada na localidade, Irmã Ludviga se deslocava diariamente a Guabiruba, voltando a Azambuja à noite. Trabalho ingente, pois nada havia lá, nem sequer uma sala preparada para tal finalidade. Sua transferência em caráter residencial ocorreu em 10 de outubro do mesmo ano.
Para iniciar o empreendimento do Ambulatório, Irmã Ludviga recorreu a um empréstimo de 100.000 cruzeiros do prefeito de Brusque. Com essa soma, conseguiu adquirir os utensílios necessários e essenciais. Também comprou um bom estoque de remédios, dando início à primeira Farmácia de Guabiruba. Aos poucos, o dinheiro pôde ser devolvido. De dia ou de noite era chamada para fazer partos, mas principalmente para atender enfermos acamados. Os colonos vinham buscá-la de carroça, carro de mola, e em casos mais próximos ia a pé. A sua maleta a acompanhava sempre, com os utensílios mais necessários. Em sua formação, no Convento, havia-se dedicado à arte musical em vários instrumentos. Por isso, foi também regente do coral Cristo Rei, reativando-o e organizando ensaios semanais.
A casa religiosa de Guabiruba e seu ambulatório não tinham muito significado perante as obras de maior desenvoltura, que eram mantidas pela própria Congregação. Nos últimos meses de sua permanência, foi encaminhando a sucessora para os trabalhos, Irmã Ercília. Em novembro de 1963, Irmã Ludviga foi transferida. Mesmo com tão pouco tempo de permanência, foi fundadora do serviço de enfermaria entre o povo guabirubense.
Após Guabiruba, retornou a Azambuja, onde permaneceu até 1965, quando foi chamada a servir no Hospital de Caridade, em Florianópolis. De lá, tantas outras foram as solicitações das superioras.
Em seu currículo constam mais de sessenta anos devotados à causa da saúde das pessoas, nos 76 anos de vida religiosa. Após trabalhar em diversos locais (Blumenau, Joinville, Lages, São Bento, Brusque, Guabiruba, Florianópolis, Guaramirim, Santo Amaro, Tijucas, Jaraguá do Sul, Tubarão), retornou para a comunidade de Irmãs de Tijucas, dedicando-se à ornamentação da Igreja Matriz São Sebastião. Tijucas a honrou, declarando-a Cidadã Honorária.
Nos últimos anos ainda se dedicava aos trabalhos manuais, confecção de alfaias, sacristã da capela interna da comunidade, cultivo de flores e, especialmente, ao seu amado Coral Santa Cecília - chamado Coral da Irmã -, do qual foi regente e organista até a morte: 15 dias antes ainda havia cumprido seu ofício na missa da manhã, na matriz. Era o domingo, dia 23 de agosto; na mesma tarde, foi internada no Hospital, de onde Deus a chamou na madrugada do dia 08 de setembro.
Como preito de gratidão pela sua pessoa e pela amizade que nutríamos reciprocamente, fiz questão de convidá-la para cantar na minha primeira missa, em 25 de outubro, em Lageado-Alto, Guabiruba. Sua felicidade foi grande, e os ensaios começaram..., agora sem vê-los concluídos. Acompanhará do céu, pois perdemos uma pessoa prestativa e amável, mas ganhamos uma intercessora. Bendita seja sua memória, exclamarão os povos aos quais se dedicou e as pessoas que a conheceram.