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Paixão e Morte de um Homem Livre atrai 8 mil pessoas
7 de abril de 2015
É no meio da multidão que ganha vida a primeira cena do espetáculo “Paixão e Morte de Um Homem Livre”. Do alvoroço provocado por uma mulher pega em adultério perturba o grito, o choro, a súplica por misericórdia. Mas, no caminho de Maria Madalena estava Jesus de Nazaré, o homem com sabedoria de Deus, capaz de confrontar a consciência e a hipocrisia humana. Assim, pedras foram lançadas ao chão e a mulher adultera não apenas se tornou uma grande seguidora do Mestre como também foi a primeira pessoa a encontrá-lo ressuscitado.
Na Quinta e na Sexta-Feira Santa, dias 2 e 3 de abril, aproximadamente oito mil pessoas prestigiaram o teatro realizado pela Associação Artístico Cultural São Pedro (AACSP), com coordenação da PrismaCultural, no pátio da capela São Cristóvão, no bairro Aymoré, em Guabiruba. Com 1h50min de duração, o espetáculo reuniu mais de 400 atores voluntários, para contar a “Paixão do Senhor” sob o ponto de vista de Maria Madalena.
Além da flagelação e da morte na cruz, instantes em que o público permaneceu no mais perturbador e absoluto silêncio, uma cena interpretada pela primeira vez no espetáculo despertou a atenção. Era o depoimento do soldado que perfurou o coração de Jesus com uma lança, de onde viu jorrar sangue e água. A perfeita junção de palavras e a interpretação cheia de sentimento foi suficiente para a emoção transbordar em lágrimas, iluminando o rosto de boa parte do público presente. O soldado dizia assim para Pôncio Pilatos: “Senhor Governador, eu estive parado junto à cruz, mas, na verdade, não queria estar ali. E sempre que virava para ver Jesus, seu olhar me fazia sentir e pensar que eu devia estar no seu lugar. Ele não me via com ódio. Pelo contrário. Apesar do grande sofrimento que padecia e de sua expressão de agonia, ele me olhava com amor. Eu não consigo entender porque ele dizia palavras como ‘Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem’. No meu interior eu lhe dizia: ‘Vamos, se Tu és Filho de Deus, por que não desces desta cruz? De repente, me dei conta de que todo o meu corpo começou a tremer, porque parecia que Ele escutava meus pensamentos. E, em meio ao seu corpo desfigurado e coberto de sangue, Ele me dizia com o seu olhar: ‘Amigo, se eu não desço desta cruz, é por amor a ti’”.
A emoção de quem viu
Foi a primeira vez que Ellen C. da Silva prestigiou o espetáculo “Paixão e Morte de Um Homem Livre”. Ela, que mora em Florianópolis, ficou sabendo do evento através da televisão e comprou o ingresso para assistir a peça ao lado da mãe, dona Janina (79 anos), e do filho, Vinícius Gabriel, com Síndrome de Down. “Foi maravilhoso, me faltam palavras para descrever esta experiência. Estou muito impressionada com o comportamento do meu filho, que não desviou o olhar em nenhum momento e estava muito envolvido com o teatro. O cenário estava perfeito, assim como o figurino e a interpretação. Fiquei impressionada com o realismo da crucificação e morte de Jesus. Tudo muito profissional”, avalia Ellen.
Jane Lang Kohler era outra mãe que, emocionada, permanecia ao lado de seu filho especial, o Nicolas (11 anos), com paralisia cerebral. Apesar de viver em Guabiruba, foi a primeira vez que o menino acompanhou o espetáculo. Amparada pela direção do evento, Jane teve assegurada todas as questões de acessibilidade e, inclusive, conseguiu tirar com tranquilidade uma foto do filho ao lado do ator Julio Rocha, que interpretou o Rei Herodes no espetáculo. “Senti tanta emoção nesta noite que nem sei explicar. É um orgulho para Guabiruba sediar um evento deste nível e até a minha família, com algumas limitações, encontrou um local apropriado para prestigiar o evento”, ressalta.
Quem também aguardava ansiosa o abraço do ídolo Júlio Rocha era Maria Dirschnabel, 69 anos. Com a agilidade de uma menina, ela conseguiu um lugar disputado na grade de segurança e permaneceu ali, encostadinha, enquanto aguardava para ver o ator passar. “Minha neta faz parte do teatro e chegou em casa toda emocionada, porque ganhou um autógrafo do Julio Rocha. Ela que me incentivou a ver ele de perto, disse que coisa mais linda não tem”, afirma Maria.
Poucos minutos depois e lá estava ela, toda prosa, em conversinhas com Julio Rocha. Dona Maria chegou até a ganhar beijo estalado no rosto do galã. “Meu Deus, ele é lindo mesmo! Valeu à pena esperar. Já havia assistido ao espetáculo muitas vezes. Só que hoje volto para casa com uma experiência diferente. Eu gostei. A equipe que realiza o teatro está de parabéns, porque a cada ano fica melhor. Eu, que venho sempre, não canso de me emocionar. É lindo demais”, garante.
Muito atencioso desde que chegou em Guabiruba na terça-feira, 31 de março, Julio Rocha deu exemplo de cordialidade. “Vocês são maravilhosos. Aqui, descobri que Guabiruba não é pequena. Guabiruba é gigante. Então eu queria mandar daqui, para ecoar no Brasil inteiro o nosso ‘Feliz Páscoa’”, disse o ator logo após a queima de fogos de artifício, no final da apresentação desta sexta-feira.
Avaliação final
A história nasceu há mais de dois mil anos e, por 20 edições, foi contatada em Guabiruba, para um público fiel e expressivo. Parece simples, mas o “Paixão e Morte de Um Homem Livre” de 2015 foi planejado com uma série de desafios.
O primeiro deles foi a apresentação repetida em dois dias. Este ano, além da tradicional Sexta-Feira Santa, o evento foi apresentado pela primeira vez na Quinta-Feira e a dúvida de se haveria público se dissipou diante de uma plateia que ocupou mais de 90% das cadeiras disponíveis já no primeiro dia do espetáculo e esgotou os ingressos no segundo dia.
Outra novidade foi a contratação do ator global Julio Rocha, para permitir a troca de experiências entre o elenco e dar uma nova visibilidade e perspectiva ao projeto. A direção da Associação Artístico Cultural São Pedro (AACSP) manteve cautela na seleção do ator e acertou em cheio com a escolha: Julio Rocha foi além das expectativas e tratou a todos com muito carinho e respeito.
“Foram dois dias maravilhosos, com trabalho, dedicação e esforço de muitas pessoas. Terminamos felizes com as duas apresentações e só nos resta agradecer a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram com o espetáculo. E agradecer também ao público pela confiança e apoio em todas as inovações propostas”, diz o presidente da AACSP, Arisson Kohler.
Para o diretor executivo do teatro e superintendente da Fundação Cultural de Guabiruba, Gilmar Celva, a edição de 2015 foi marcada por duas apresentações e, consequentemente, pelo trabalho em dobro. “Foi um desafio. E hoje podemos dizer que as duas sessões foram um sucesso, reunindo uma média de oito mil pessoas. Passei as últimas seis semanas envolvido intensamente com o teatro, na coordenação de 400 atores e mais a equipe técnica. Mas posso garantir que todos colaboraram para esta realização”, salienta.
Para o diretor artístico do projeto, Émerson Schmidt, a avaliação final é positiva, já que todas as expectativas foram alcançadas. “A reação do público é um termômetro para saber se valeu ou não. O público gostou, então o nosso trabalho foi bem realizado. Não é fácil produzir um espetáculo desta grandeza, mas possa afirmar que este foi o maior de todos, o mais bem preparado e, cenograficamente falando, o mais bonito”, ressalta Schmidt.
O prefeito de Guabiruba, Mathias Kohler, fez questão de assistir o teatro nas duas noites de apresentação. Ao final, não escondia o orgulho que sente pelo projeto. “É um sentimento de realização plena. Quero reconhecer a seriedade do trabalho que a AACSP desenvolve pela cultura da cidade, através desta peça, e dizer que o ‘Paixão e Morte de Um Homem Livre’ faz parte da história de Guabiruba”, observa o prefeito.
Por fim, o coordenador do projeto, Sérgio Valle, da PrismaCultural, destaca que a missão foi cumprida. “Tudo correu bem e dentro do planejado. A grandiosidade do espetáculo já é tradição. No entanto, em 2015, muitas inovações foram feitas e percebemos um público interessado e atento ao espetáculo”, enfatiza.
Promovida pela Associação Artístico Cultural São Pedro (AACSP), a 20ª edição do espetáculo “Paixão e Morte de um Homem Livre” conta com a coordenação de projeto da PrismaCultural, incentivado através da Lei Rouanet. Nesta 20ª edição do evento, o espetáculo foi patrocinado pela Prefeitura de Guabiruba e pela empresa Guabifios.
Fonte: Ideia Comunicação Corporativa/AACSP