Bate-Papo com o educador Celso Antunes

20 de fevereiro de 2014

educação Notícias

Um dos principais nomes do V Simpósio de Educação, realizado nos dias 10 e 11 no Salão Cristo Rei, em Guabiruba, foi o educador Celso Antunes, mestre em Ciências Humanas, especialista em Inteligência e Cognição e autor de diversas obras educacionais no Brasil, América do Sul e norte da Europa.

 

Durante o Simpósio, promovido pela Prefeitura de Guabiruba, por meio da Secretaria de Educação, juntamente com a Comunidade Bethânia, o educador ministrou duas palestras: “O que é educar e com quantos princípios se faz um educador eficiente” e “Indisciplina e Violência Escolar: Como Enfrentá-las?”.

 

Você confere a seguir o bate-papo com o escritor no camarim do evento momentos antes dele ministrar a segunda palestra.

 

AI: Qual a principal mensagem que o senhor traz para o Simpósio?

 

Celso Antunes: O objetivo principal é trazer uma mensagem que renovar-se, atualizar-se, não é difícil, não é caro. Mas é imprescindível, essencial. Tal como é importante para qualquer profissional de qualquer área estar atualizado, capacitar-se para os desafios das mudanças, para o educador também é. Então, independente da abordagem deste ou daquele conteúdo, deste ou daquele palestrante, a mensagem é de que estamos preocupados com a capacitação dos professores. Não podemos impedir que os diplomas tenham validade perene. Não podemos ter diplomas com validade restrita, como a carteira de motorista, o que seria ideal. A mensagem é de que estamos empenhados em fazer com que os professores ministrem aulas melhores.

 

AI: Podemos dizer que vivemos uma crise na educação? Greve de professores por salários mais justos, violência nas escolas. Seria essa uma crise crônica?

 

Celso Antunes: Qualquer movimento, por mais justo que seja, vai atingir mais profundamente quem nada a tem a ver com aquele movimento, que é o aluno, a mãe o pai. Sei que é uma utopia, mas no Japão quando uma comunidade profissional quer fazer uma greve, veste uma camisa do avesso, usa boné e coloca a aba para trás. A sociedade inteira sabe que estão em greve. Defendem a causa, mas continuam a trabalhar. Eu defendo muito o direito de greve, mas sou muito contra a paralisação, porque ela não atinge o político, atinge aquele que não deveria atingir: o aluno.

 

AI: Um dos palestrantes do Simpósio, Gabriel Perissé, afirmou que o desafio é tornar a educação massificada em uma educação para cada um. E que o aluno nota 2 tem um professor nota 2. Qual a sua opinião sobre essas declarações?

 

Celso Antunes: A Unesco é um organismo das Nações Unidas voltada para a concepção do mundo da educação e a Unesco, considerando que a educação está cada vez mais globalizada, cada vez mais as pessoas estão trabalhando onde não nasceram, prescreveu que a educação do século XXI deve estar apoiada em quatro pilares: ensinar a aprender, ensinar a se relacionar, ensinar a fazer e ensinar a ser (a desenvolver valores). Ser é muito mais do que ter. Então se pergunta como está a educação brasileira em relação a esses pilares mundiais? Muito distantes. Ainda prevalece a ideia de que o professor ensina coisas, quando a finalidade é ensinar a aprender. Há uma distância muito grande entre a concretização dos quatro pilares e o que realmente se faz. E tudo passa pela capacitação dos professores, por isso sou um defensor de eventos como este.

 

AI: Qual a importância da família na escola?

 

Celso Antunes: A escola não é vista no Brasil como é vista em países mais avançados do ocidente e do oriente. Temos dados estatísticos, concretos, que não existe fenômeno mais importante para diminuir a evasão escolar, do que a presença da família na escola. Não existe ferramenta mais eficiente para aumentar o Índice de Desenvolvimento da Educação, o Ideb, do que a família na escola. Eu acho que é papel de todo professor, do diretor, mostrar à família que a sua vinda à escola não é desejável, é essencial. É importante que a escola torne essa vinda atraente. Trazer à família à escola pra dar uma folha que ela poderia receber em casa, não a motiva a se deslocar. Um dos remédios mais baratos, mais eficientes e mais imediatos para a educação é atrair da família à escola.

 

AI: Como o senhor avalia a educação a distância?

 

Celso Antunes: Todo processo educativo só pode ser avaliado a partir de mecanismos de avaliação. O que nós temos notado em estatísticas nacionais, em termos gerais, é que há uma ótima educação a distância, que não tem muito a perder de uma educação presencial. Não estou externando um ponto de vista, mas citando uma estatística. Claro que não se pode pensar em uma educação a distancia sem uma tutoria, sem ajuda local para desenvolver aquele aluno. A educação a distancia traz a informação atualizada, contemporânea, mas aquela informação ajustada ao cotidiano da escola requer uma tutoria.

 

 

AI: Qual mensagem o senhor deixa aos professores?

Celso Antunes: Eu não sei como será o amanhã, mas ele será como o professor o fizer, porque realmente é ele que planta, que constrói esse amanhã.

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